Eventos recentes mostraram a realidade de problemas graves e urgentes para organizar o atendimento da população da região.
Tais eventos foram a discussão com ex-secretários municipais patrocinada pela Câmara Municipal, e a outra patrocinada pela Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas, com a presença por videoconferência de representantes de hospitais do município.
As contribuições dos participantes permitem concluir que a diminuição das restrições de ordem sanitária, mesmo que parcial, é bastante temerária para a saúde da população face ao progresso atual da contaminação viral.
A organização do sistema de atenção à saúde neste caso é embasada em alguns marcos importantes: a morbidade da população, a capacidade instalada do atendimento à saúde e o esgotamento pontual ou geral dos recursos para a execução das ações assistenciais.
A morbidade da população diz respeito a três grupos: os infectados pelo vírus, a população portadora de doenças crônicas passíveis de agudização e os casos de urgência por causas externas; e, a mistura dessas duas condições: pacientes com doenças crônicas com Covid-19.
A pouca quantidade de exames para a detecção da doença torna marcante a importância da triagem de casos suspeitos nos diversos pontos do sistema de saúde, a começar pela atenção primária realizada nas Unidades Básicas de Saúde.
A triagem e, especialmente, o diagnóstico e o encaminhamento dos pacientes com a Covid-19 também devem ser executados nos ambulatórios gerais e dos hospitais de atenção nos níveis secundário e terciário.
Uma coordenação de fluxos dos pacientes é vital para que o sistema funcione.
Com representação dos órgãos municipais, estaduais e privados da saúde suplementar, embasados em dados epidemiológicos confiáveis e liberados em tempo real, faria com que os fluxos e as medidas gerais e pontuais levassem a um atendimento mais eficaz dos pacientes da pandemia.
Os pacientes com doenças crônicas agudizadas (diabéticos, hipertensos, cardiopatas, etc.) necessitam de acompanhamento periódico para que se evitem ou se detectem precocemente eventuais complicações.
O atendimento a tal população tem diminuído bastante nos diferentes serviços de atenção à saúde em todos os níveis. Isso é preocupante pois podem ocorrer mortes domiciliares desses pacientes, que agudizam e não encontram atendimento adequado, ou, o que é mais grave, têm medo de procurar tais serviços para não “pegarem o coronavirus”.
Aqui também há a necessidade urgente de coordenação multidisciplinar para planejar e executar fluxos de pacientes nestas condições, integrando o atendimento aos doentes crônicos, seja no acompanhamento eletivo, seja na atenção aos crônicos agudizados, com ou sem a Covid-19.
Tais morbidades crônicas, assim como as de causas externas (acidentes e outras) são mais afeitas aos hospitais.
A gestão interna é imprescindível para trazer maior eficácia no atendimento.
É sabido que equipamentos, insumos e equipes para o atendimento adequado têm atingido níveis próximos ao colapso em muitas unidades hospitalares.
Coordenação única para as macrorregiões da RMC e da DRS-7; capacitação das equipes de saúde para atendimento; gestão e gerenciamento integrado para compras de insumos, são pontos a serem pensados pelas autoridades de saúde.
Somente a união de esforços municipais, regionais e estaduais, públicos e privados, para a gestão de tão complexo e multifacetado problema poderá minimizar seus graves efeitos sobre toda a população.
Iniciativas como as colocadas pela Câmara Municipal e pela Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas trazem em seu bojo o embrião de como a sociedade poderá se organizar para tratar d
este assunto sanitário urgente e indicam caminhos para a organização dos SUS, integrando o público e o privado, sem ideologias ou partidarismos.
Prof. Dr. José Carlos Ramos de Oliveira, professor aposentado da FCM-Unicamp, ex-diretor da FCM da PUC-Campinas, ex-Diretor do DRS, sócio do IPADS e atual pesquisador colaborador do NEPP/PESS- Unicamp.
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